A BBC fez uma reportagem muito interessante sobre o aumento de brasileiros residentes na Itália.
Apesar da Pandemia, e das dificuldades em viajar para Itália. A população de brasileiros residindo na „Bota“ dobrou nesses últimos 2 anos
Mas não é privilégio da península italiana. A península ibérica também está recebendo uma grande quantidade de „zukas“.
E esses números não são exatamente totais. Haja visto que, a exemplo, um descendente de italiano que reconheceu a cidadania e foi para a Itália, não entra em estatísticas como imigrante, mas sim como repatriado. Um neto de português que obtém nacionalidade portuguesa, nem entra em estatísticas de imigrantes também. E se de um vai a outro país, são considerados imigrantes italiano em Portugal e vice-versa!
Eu mesmo, indo a Portugal, sou um imigrante polonês, mesmo nunca tendo posto os pés na Polônia.
Ainda existem os que seguem para outros países europeus, e principalmente para os Estados Unidos, mesmo com as atuais restrições a imigrantes.
Quem emigra?
Fato que o êxodo é grande, e não temos números adequadamente levantados hoje pelo Itamarati, dado que no Brasil não temos aquela obrigatoriedade como o italiano tem de manter o AIRE atualizado. Então, para a receita e para o governo, muitos brasileiros que residem há anos fora, são considerados como ainda na Brasil.
Outro fator que ocorre é o perfil do atual emigrante. Ainda mais pelas atuais dificuldades econômicas, que dificultam uma pessoa de menor renda e com menos Soft Skill a realizar a aventura, e pela demanda de especialidades lá fora, e pouca remuneração dessas mesmas especialidades aqui, o brasileiro médio que pegam o „asa dura“ pra ficar por lá, geralmente é o mais preparado. O brasileiro que mais custou para a sociedade até formar, em tempo e dinheiro.
Foram-se os tempos do „Zuka“ faxineiro, ou garçom. Existem, claro. Mas apesar de mesmo esses serem melhor reconhecidos lá fora, o perfil do emigrante brasileiro está movendo na curva de aprendizagem, e atendendo a demandas refinadas, em especial da Tecnologia de Informação, mas também na enfermagem, cuidados com idosos, e outras profissões praticamente maltratadas aqui, mas valiosas lá fora.
Preconceito?
Imigrantes nas terras do velho continente costumam apresentar mais casos de frases e olhares relativos aos Zukas em Portugal, e aos Brasilianos na Itália, do que os que seguem à América do Norte. Mas como eles dizem, „gente ruim existe em qualquer canto“. No Brasil mesmo um nordestino pode enfrentar situações desagradáveis no Sul. Um sulista pode ouvir coisas estranhas na Amazônia (aconteceu comigo). Então acho que é da natureza humana, e não devemos nos deixar levar, muito menos criar ondas de revanchismo. Rebaixar ao nível seria dar razão ao infrator da cordialidade.
Mas dentre a multidão de etnias presentes na Europa, os brasileiros não são os que mais sofrem discriminação. Etnias médio-orientais e asiáticas tendem a ter mais problemas do que os brasileiros, sendo até bem aceitos, não só os descendentes de europeus daqui, como também os afro-brasileiros. Afinal, a nossa cultura é extensivamente consumida em Portugal, das telenovelas aos atuais youtubers (mesmo com a polêmica recente). E também na Itália existe lá uma absorção de nossa música e cultura que não se faz da mesma forma com culturas mais exóticas para eles. Outros países ainda que menos, têm uma visão exótica porém até acolhedora do brasileiro, corriqueiramente visto como simpático e alegre, e sim, útil no mercado de trabalho.
Compensação
Fato que, no geral não reportam ser isso um empecilho para seguir a vida e se reconstruir num novo país. E acabam por encontrar uma situação mais interessante, e até mais digna do que na média seria possível obter no Brasil. Fazendo as mesmas coisas. Encontrando melhor qualidade de vida e reconhecimento, e melhores serviços públicos. Sendo a segurança um dos motivos mais citados entre os influenciadores da atualidade.
A maioria deles evidencia a segurança: „Não se preocupar se vai ser assaltado na esquina, ou se tua filha está em perigo ao voltar da escola sozinha, não tem preço“. De fato, não existe lugar 100% seguro, mas a diferença é gritante, ainda mais para os que moravam em regiões como da grande São Paulo e Rio de Janeiro, e foram para freguesias pacatas de Portugal, ou aos picoli paesi italianos. Mas mesmo grandes centros como Lisboa, Porto, Roma, Milão, Bruxelas, Madri, Valência, Munique, entre tantos, ainda assim, a sensação de segurança é incomparável.
Reconhecimento
Características da nossa cultura laboral são evidenciadas. Acostumados a ter que dar um jeito pra tudo, e com poucos recursos aqui, um brasileiro quando colocado em ambiente propício, costuma apresentar resultados evidentes. E existem muitos empregadores do além mar que reconhecem no brasileiro uma resiliência e adaptação muito interessante.
Mas há de se ressaltar que qualquer preparo antecipado é um fator multiplicador de oportunidades e reconhecimento.
Mesmo da Terra de Camões, „onde a terra se acaba e o mar começa“, o domínio da língua inglesa pode não apenas ser um diferencial, como muitas vezes esperado pelo contratante. É comum ver um bom garçom no Algarve falar em Português com uma mesa, em Espanhol com outra, e em Inglês com outra mesa, no mesmo minuto. Quem dirá um desenvolvedor de software trabalhando numa empresa em que precisará participar de vídeo-conferências com clientes e co-desenvolvedores de vários países, e nesse caso, adota-se o Inglês como padrão das reuniões, muitas vezes não sendo ninguém de país de língua Inglesa!
Sempre digo, não custa nada, e sempre é tempo para aprender algo, principalmente com tantos aplicativos e tantos cursos na internet, tanto de línguas quanto de outras habilidades vendáveis lá fora.
O desafio de emigrar
Há de se tomar certos cuidados ao se tomar a decisão de ir-se. Mas cada um é que precisa saber de sua situação. Alguns influenciadores são muito pragmáticos, recomendando condições bem restritivas, outros até um tanto inconsequentes, relaxando muito no planejamento, principalmente financeiro. Todos eles com base em suas experiências pessoais. Há quem tenha deixado uma vida de classe média-alta no RJ, e fugiu para Europa em busca do abrigo da segurança e qualidade de vida. Há quem tenha deixado para trás um passado de dificuldades financeiras, e encontrou um refúgio de dignidade mesmo numa vida simples.
Fato que cada cabeça uma sentença, e somente cada um pode saber como, quando e como atravessar o oceano, muitas vezes sozinho, outras vezes com família, cachorro gato e papagaio.
Essa semana num canal de Portugal o autor apresentou um cenário de possíveis dificuldades, advindas de novos fechamentos e restrições, e houveram os que o criticaram por estar vendendo problemas. Sendo que o que ele mais tentou deixar claro é: „Preste atenção no contrato do aéreo e da hospedagem“, o que é óbvio! Vai que bem na data planejada o país fecha para viajantes? Como ficam os custos de remarcação?
Na minha opinião não se trata de „vender problemas“ e muito menos „vender milagres“, trata-se de informar-se. Devemos entender que a informação é a matéria prima do planejamento. A informação é pública, mas a decisão é pessoal. Cada um deve tentar obter o máximo de informações possível, e o mais apurado, para então processar e tentar espelhar isso em seu planejamento pessoal de emigrar.
Veja o artigo de base
Leia a reportagem na íntegra e assista ao vídeo.